26 de novembro de 2007

laBoraTório de tRoCa de aFEtos

laBoraTório de tRoCa de aFEtos

O Estúdio Digital é um acontecimento político, didático e pedagógico da disciplina Cultura e Mídia, do curso de Biblioteconomia, campus da UFC/Cariri. Visa proporcionar ao alun@ uma relação de afeto entre a sala de aula, o conhecimento e uma outra pessoa quem vem de fora, testemunha da vida, da cultura do seu lugar e do mundo. Ela vem de fora para narrar através da sua voz o ritmo da sua experiência de vida a ser dita. Objetiva gerar uma experiência. Um contato. Toque. Nesse sentido, toda pessoa é potencialmente apta para o nosso intercâmbio.

Pretende-se, nesse encontro de narradores e receptores, construir possibilidades de ensino-aprendizagem a partir da história de vida do convidad@ e seu lugar na (des)ordem do seu discurso. É um laboratório para trocar afetos e fogos! Poemas e lírios, rimas e política, fatos e fotos, cultura e mídia!
Queremos interceder a favor da diferença e do espanto. Nada que não provoca emoções e desejos podem nos conduzir ao aprendizado. Pretendemos os meios e os ritmos. Aprender a intervir para mudar o rumo do barco e assim descobrir (jamais invadir) continentes, territórios, palavras de ordem... que nos faça maior, que nos des-organize o corpo dramatizado pelo condicionamento.


O Estúdio Digital é um evento poético-político que acontece todas as sextas feiras nos segundos raios de sol, as 7:30. Temos um relógio, mais não temos um roteiro e, uma intenção: fazer desses Debates gestados informalmente, um acervo de documentários poéticos. A poética da pessoa. Por isso fotografamos seus gestos e curvas. Imagine a imagem!


O fazer é tribal. Tudo se faz
em grupo. Coletivo humano que se expande alegre para receber o próximo e a próxima pessoa-testemunha do planeta terra.

Das fotos emerge um ensaio fotográfico (VCD) para serem incluídos no Blog do projeto-acontecimento. O blog é feito pelos alun@s e contém as imagens, a entrevista o documentário, a emoção... o resto é dito pelo visitante virtual. A experiência do estúdio não é para exibir depois uma nota aos alun@s, realizar uma prova-pós-testemunha. A prova maior é chegar todas as sextas e cumprir o ritual matinal. É experimentar sabores e nos envolvermos-nos bordando uma vida nova numa canção que nos desperte! É dar fogo à vida para que ela acenda, vibre, apesar do capitalismo que tenta descompassar a música do nosso coração.




3 de novembro de 2007

Jessica Franklin



Jessica Franklin: The Culture Black People


A
ntropóloga Política canadense












O Estúdio Digital contou com a presença da fututa Dra. em Relações Internacionais (Departamento de Ciências Políticas - McMaster University in Hamilton, Ontario, Canadá)
Jessica Franklin, de apenas 27 aninhos, no último dia 31 de Outubro, que veio falar sobre:

"A dimensão transnacional das identidades e do ativismo de mulheres Afro-Brasileiras e Afro-Jamaicanas: construindo e movendo-se para além do Estado".
Sua presença foi marcada pela Prof. Dra. Joselina da Silva (Sociologia e Cultura Brasileira - UFC/Cariri) que fez o importante papel de Tradutora durante a entrevista.



Jessica começou falando sobre sua infância. Conta que quando criança visitava a Jamaica durante todo verão, na casa de seus avós, tendo também uma enorme família lá. Hoje, mantém um casamento Inter-racial com o fisioterapeuta canadense, Andre. Muitas pessoas ainda olham com espanto, mas eles se amam muito.



Por ir tantas vezes na Jamaica pôde observar como as mulheres jamaicanas contribuem, intensamente, na luta das mulheres nas suas comunidades, nas suas famílias e no seu trabalho.

Ela expõe com clareza a garra da luta das mulheres, principalmente, sas afro-braileiras, em contextos internacionais:


"Quando observo as mulheres no Canadá, na Jamaica e, agora, no Brasil, eu percebo que elas têm um grande papel à exercer e executar, principalmente na ajuda e apoio com suas famílias, e que as mulheres são muito poderosas".

Ela acha muito interessante estar no Brasil, porque tem a oportunidade de ver que as experiências das mulheres negras
possuem seu lado diferenciado, e ao mesmo tempo similares. Diz que em Salvador, a população negra é bastante grande, mas a maioria das mulheres negras, como se observa, estão no setor informal: como vendedoras de rua, empregadas domésticas e também prostitutas. Então ela observa que a vidas das mulheres (negras) lá é muito difícil.

Sobre a nossa cidade de Juazeiro do Norte, ela explana que foi muito interessante ter vindo, porque em toda a sua vida, ela nunca havia visitado uma cidade com esse perfil, no que se refere ao poder da , sobre o quanto as pessoas trabalham em torno dela e quanto a fé é importante na cidade.

As mulheres daqui têm situações similares com as de Salavador... Há uma conexão muito grande com a Igreja e isso é importante.

Ela pôde observar isto depois da palestra feita no Sesc - Juazeiro, na noite anterior (30 de outubro), que contou com um bom número de ouvintes e com muitos debates dos mesmos:

"Consegui perceber este processo das mulheres, que estão cada vez mais se tornando impoderadas, mais fortalecidas e sempre com um olhar mais voltado para e Educação, para o cuidado com a Saúde e para a vida de suas famílias".



Um fato de grande valor e interesse que ela observou no Brasil foi o fato de haver um grande número de mulheres negras envolvidas no processo educacional e nas universidades. Diz que sua vinda aqui vai influenciar em sua pesquisa, porque ela percebe que as mulheres não estão sofridas e marginalizadas dentro da Sociedade.

Sobre as questôes raciais, seu foco maior é o Brasil. Mas tem tido grande contato com mulheres da Costa Rica, Venezuela, Colômbia e a região do Caribe, em geral. Também outras pesquisas estão surgindo no Caribe a partir dos Estados Unidos.

O que no Brasil tem chamado sua atenção, é a idéia de Democracia Racial, pois, segundo ela, o Brasil é conhecido como um lugar onde há uma Harmonia Racial e ela pretende explorar e saber se as mulheres negras têm tido essa oportunidade.

A Cultura também joga um papel importantíssimo e a Sociedade, então, vai reforçar a idéia de Democracia Racial e fazer com que se acredite que, no Brasil, somos todos realmente IGUAIS, quando na verdade, a realidade é diferente.

Conclui, ainda, que a Cultura não só reforça essa idéia, mas a ensina.


Créditos do texto: Silvana Lima e Josimere
Fografias: Deusiméria Dantas

Wanderley Pecovski

21 de outubro de 2007

Gilmar de Carvalho

Gilmar de Carvalho: "O pesquisador não pode se contentar com o que ele já sabe"


Em 13 de setembro de 2007, recebemos no Estúdio Digital a presença do Professor Gilmar de Carvalho, professor a 23 de anos da UFC lotado no curso de Comunicação Social. Ele nasceu em Sobral e veio à primeira vez a Juazeiro do Norte em 1976. Quando aqui chegou se deparou com um mundo fascinante. Em sua chegada visitou a Tipografia São Francisco, naquela época coordenada por Maria de Jesus. Foi nesse contato com a tipografia, vendo as máquinas funcionando, que a sua vida passou por uma mudança e foi quando ele se aproximou da literatura de cordel.


Foi nessa viagem ao Juazeiro que começou a constituir o seu acervo, não apenas como um colecionador. De maneira sistemática procurou compreender, observar estas obras, e esta relação com o cordel começou com as artes gráficas. Segundo o professor Gilmar de Carvalho “o cordel não é um panfleto é um conjunto de histórias”. Assim, decidiu estudar o cordel na publicidade, escrevendo uma dissertação de mestrado sobre ‘Publicidade no Cordel’ que foi publicado em livro.


Gilmar é um pesquisador e já recebeu o título de Cidadão Juazeirense. Produziu muitos trabalhos sobre Patativa (possui 600 páginas transcritas de entrevistas com Patativa do Assaré).


Para Gilmar a cidade de Juazeiro é um lugar riquíssimo e cheio de manifestações culturais, onde há uma passagem constante de pessoas de outras culturas, de outros lugares e a partir desse contato adquirem-se novos valores para a região. Gilmar possui admiração pelo Padre Cícero e por Juazeiro, uma cidade híbrida para ele. Ele não consegue ver nada de negativo nas trocas de cultura que os romeiros trazem ao Cariri, na sua interação com a cultura da cidade. Ele ainda brinca dizendo que, toda vez que vem ao Juazeiro vê uma “marmota nova” e são estas as manifestações que implica em novas produções culturais.


Segundo Gilmar o cordel teve grande importância na vida de Lampião e foi a partir do cordel que tivemos outra visão sobre Lampião de uma forma contextualizada. Ele cita um folheto riquíssimo sobre Lampião “A visita de Lampião ao Juazeiro”, uma espécie de cordel jornalístico e também histórico. Ele ainda ressaltou que a produção de cordel escrito por mulheres sobre lampião é um cordel das memórias do Lampião, ou seja, apenas baseado em memórias. Assim como Lampião, o cordel é uma fonte muito importante para se ver o Padre Cícero.

É um admirador dos cordelistas mauditos, vê eles como um grupo muito instigante e interessante, são antropófagos, pegando partes de contribuições sociais para as suas produções e, segundo ele, em um determinado momento eles irão dar uma sacudida no cordel tradicional.


O Cordel não tem data de inicio, um começo, o povo comemora 100 anos de cordel, no entanto para Gilmar ela vem de muito tempo, é uma literatura oral, são historias que são contadas e estas histórias começaram a ser circuladas explicando a nossa vida, desde a Idade Média, passando às pranchas, depois se apropriando na imprensa com Gutenberg. Considera que o cordel não é uma coisa européia, mas composta de hibridismos.

Ele explica que é importante não confundir o cordel com o panfleto, para ser cordel deve-se ter alguns elemento, deve-se haver uma construção poética, não é qualquer forma de manifestação do pensamento. “O cordel é uma literatura da voz, impregnada de coisas fantásticas...”, mas, o que deve haver essencialmente no cordel, é a poesia e o encantamento.










Por: Maria Fabricia Santana de Sousa e cicinha

19 de outubro de 2007

HAMURABI BATISTA



















Hamurabí Batista – "A arte como terapia"

poeta, xilógrafo, cordelista, músico, ex-evangélico, universitário (Letras)

Aos 10 anos começou a trabalhar com gravuras junto com seu pai, o poeta Abraão Batista.

Começou a escrever cordel ainda no ginásio (5ª série).
Tem 24 cordéis de diferentes títulos, entre eles, três ou quatro já foram reimpresso. No total somam 26 (ou 27?) trabalhos editados.
No prelo, mais 10 cordéis a serem futuramente publicados.

Durante sua carreira usou alguns codinomes, como Manoel Messias e Francisco Matêu.

Desde 1995 que ele se identifica de uma maneira mais visceral com a cultura de Juazeiro. Neste mesmo ano fez um cordel sobre o parque ecológico da timbaúba, utilizando seu próprio nome, Hamurabí Batista.

Tem como influência musical o Chico Sciense, um cara que para ele é toda referência em música e poesia.

Para ele a cultura é a assimilação de tudo. A melhor terapia que se pode encontrar é através da arte, passar horas pintando, desenhando, esculpindo, isso liberta ou mesmo alivia as paranóias, ajuda a esquecer da vida.

Explicou a diferença entre repente e embolada.

Nos últimos tempos ele produz cordéis e xilogravuras. A sua produção em gravura, dos últimos dois meses, está sendo exportada para Portugal.

Sob seu ponto de vista, o trabalho feito por dinheiro não sai tão bom como quando é feito com espontaneidade.

Durante todo o tempo entre um papo e outro ele cantava uma de suas emboladas. As mentiras de Benezio, que relata à história de um amigo mentiroso. Pau de arara – onde ele brinca com o fato de que o romeiro pode escolher por quem quer ser lesado (pelo comércio, pela igreja ou pelos trombadinhas). Coco metal – primeiro coco que ele fez. Cearáfrica – que é um reage com palavras de cidades africanas e cearenses.

Seus cordéis estão no Centro de Cultura Mestre Noza.

Por: Andrêzza Camilla e Marta Lopes

12 de outubro de 2007

Mano Grangeiro




Nívia Uchôa

Aurenívia Moraes Uchoa, ou simplesmente Nívia Uchôa.

Nívia é fotógrafa e grande artista da nossa cidade, e nós iremos saber o que levou ela à Fotografia, e, assim, trocaremos experiências.

Com 14 anos de documentação fotográfica aqui no Cariri, Nívia considera a região como um local bastante rico em imagens e até trouxe seu material no qual retratou um pouco a cidade de Juazeiro do Norte e alguns locais na região do Cariri.

Esse material que ela nos mostrou foi uma tragetória de um tempo, em que ela foi para algumas cidades e, em especial, a Região dos Inhamuns. Neste trabalho, Nívia teve a oportunidade de participar de um livro que conta a história do Ceará, entitulado Memórias do Caminho, de Oswaldo Cruz.

Nos primeiros momentos da entrevista, Nívia definiu o conceito de Fotografia que significa escrita da luz..., e concluiu que a Fotografia nos possibilita utilizar alguns artifícios, tipo colocar movimento, que é algo que ela gosta muito: Fotografar em movimento.

Ela começou quando se "entendeu por gente", quando via as fotografias dos seus familiares, que seus pais sentiam prazer em guardar essas Memórias. Conta que seu irmão fazia experiências com uma caixa de sapato e água, e projetava as imagens na parede com um lençol de sua mãe. Ela brinca dizendo que ele até cobrava a entrada pra vizinhança assistir. Assim, tudo aquilo, mesmo pequena com 8 anos de idade, lhe chamou atenção e sentia emoção quando via aquelas imagens e um desejo sendo despertado dentro de si.

Seu irmão sempre ganhava câmeras e na sua casa sempre tinha várias máquinas. Seus vizinhos tinham um Estúdio e ela ficava muito lá, vendo como eram os processos de revelação. E aí Juazeiro como é forte com essa coisa da romaria... ela jovem... entrou na Universidade e concluiu o curso de Gegrafia, e percebeu que a Cultura aqui na região era muito forte... Também percebeu que seria maravilhoso trabalhar com fotorafia, vendo as paisagens que o curso de Geografia lhe possibilitou estudar.

Ela trabalhava no setor de contabilidade do Sesc-Juazeiro, quando comprou sua primeira câmera. Mas a todo momento, ela já sabia que era fotógrafa. E em 1993, ela foi despedida , e percebeu que a fotografia lhe dispusera como trabalho e prazer.

Diz, com brilho no olhar, que:

"A fotografia é passado, mas um dia ela já foi futura e só é presente em um determinado momento em que acontece aquilo [...] as expressões são penetradas naquele momento, e não podemos perder tempo, porque os momentos são únicos."


Para fotografar, é necessário, além de ver, olhar. Porque a partir daquele momento você pode desvendar uma imagem com um olhar, então a imagem passa a ser leitura, registro, informação, documentos.

A sua preferência para fotografar, são as pessoas. Ela fala que gosta de gente, que gosta do ser humano, homens, mulheres, crianças, idosos. Nívia estuda o cotidiano das pessoas, da sua cultura. Só que agora está trabalhando com paisagens devido a um porjeto que participa relacionado à Água. Então começou a fotografar, criativamente, a água em vários univeresos nos quais eles se encontram.

A Fotografia oferece a possibilidade de transmitir várias linguagens ao seu olhar. E a missão do fotógrafo e mostrar a sua visão nas fotos... Estar sem a câmera, é como estar sem roupa.

Nívia Uchôa quando começou a utilizar a câmera digital, tudo se fez novo ao seu redor e ela passou a não gostar daquilo, pois foi como perder a sua identidade, sua essência. Ela até começou a "tirar o foco" das suas fotografias. A câmera digital permite escolher qual acessório utilizar... É diferente de já tirar a foto em preto e branco, por exemplo, ao invés de tirar em cor, imaginá-la em preto e branco, e depois colocá-la no "Photo Shop" e tirar a cor... Quando começou a fotografar a Água, percebeu que podia tirar o foco, e mostrar a água de uma outra forma. É importante que o fotografo esteja no local certo e na hora certa.

Mas tudo é Fotografia. O importante é fazer a Fotografia. Independe do que você fotografa ou como você fotografa.

A profissão de Fotógrafa não é fácil porque os equipamentos são caros! Mas para apresentar não. O mais difícil é construir seu equipamento. Ela conta que mesmo tendo muitos amigos fotógrafos, ainda sofre alguns preconceitos, pelo fato de ser mulher. Mas afirma que nos últimos dez anos, as mulheres vem tomando muito espaço nessa profissão.

Eu comecei a fotografar em 1993, e o seu primeiro curso foi em 1996: "Eu não acredito em dom, [...] mas acho que a Fotografia, pra mim, é uma visão de mundo".

Nívia diz ainda não conseguiu fotografar o Impossível, e acha que não pode fotografar. A Fotografia pode ser inventada. Você tem que ter paciência e insistir naquilo que quer mostrar. É essa insistência que é legal. Fazer se tornar possível.

A Fotografia como trabalha com expressões, quando se faz uma seqüência de fotos, existe uma, essencialmente, em que ela vai mostrar todas as outras. “Uma fotografia de uma seqüência vai falar muito mais do que todas as outras.” E as vezes as coisas saem de forma inconsciente. A fotografia é surpreendente!

Nívia Uchôa finaliza seus depoimentos falando da conservação da Fotografia, onde, primeiro se faz uma edição de todo o material, depois a seleção das melhores fotos, e aí se for em filme, guarda-se os negativos. Também é importante que se tenha um quarto com ar-condicionado pra armazená-las. Ou um local fresco, tipo um isopor, só é necessário ter cuidado com o calor, para os negativos não suarem.



Créditos do Texto: Milene Moraes

5 de outubro de 2007

Fábio Rodrigues





















FÁBIO RODRIGUES: UM MEDIADOR ENTRE A ARTE E A EDUCAÇÃO

Fábio Rodrigues é paraibano, natural de Campina Grande. Por ter morado muito tempo fora, em Recife, sente-se mesmo é pernambucano. E hoje ele se diz mais pernambucano-caririense.

Formado em história pela Universidade de Pernambuco – UFPE mestre em Educação pela mesma Universidade e doutor em Arte/Educação em Sevilha, Espanha. “Eu acho que a formação tem que ser interdisciplinar”.

Está no Cariri desde 1998, quando prestou concurso para professor da URCA (Universidade Regional do Cariri) no curso de Pedagogia. Seu objetivo maior é formar professores de arte e aproximar todas as pessoas do mundo da arte. Segundo Fábio, ele tem um “desejo muito grande que a nossa região dialogue com outros lugares, outras experiências, tendo a arte como esse conhecimento tão humano e totalmente cultural”.

“Tenho pela região um verdadeiro carinho, sentimento de responsabilidade muito grande pela região do Cariri, primeiro porque eu vejo uma região marcada por um isolamento do resto do mundo, a região se feche muito nela mesma. Então, ela deixa de dialogar com outros mundos porque o mundo não está aqui. O meu grande esforço aqui é que a gente possa dialogar para afirmar e reafirmar sobre a nossa identidade, e não perdê-la ... O meu grande esforço hoje, tendo a arte como um conhecimento, que é um CONECIMENTO, que tem sua identidade muito definida em cada lugar, mas que se abre para todos os olhares, todos os ouvidos, todas as bocas, todos os corpos. De certa maneira, o meu grande esforço tem sido este. ”.

Além disso, mencionou outros exemplos bastante engraçados, vividos por ele pelo fato de ser gay. Disse que: saber conviver com as diferenças é não impor um gênero. As pessoas têm que mudar!

“Eu primeiro tenho que me reconhecer como pessoa. Não existe indivíduo fragmentado, tipo eu sou Gay/ Doutor, e sim eu sou Gay e Doutor. As pessoas são impostas a creditar que tem papéis masculinos e femininos na sociedade. Se as pessoas gostam ou não eu sou gay e não assumo apenas para que as pessoas olhem para mim com os rostos satisfeitos e digam que legal ele assume o que é. Somos educados para sermos heterossexual"



Fabio Rodrigues prefere o termo gay por que não é heterossexual, e por que a palavra homossexual dá a ele um sentido de doença. Ele criticou severamente a maneira como Tom Cavalcante transmite na mídia a imagem do gay.

Por: Andrêzza Camila e Micaele Gonçalves

Renato Cassimiro


Renato Casimiro: Um arquivo vivo de Juazeiro do Norte

Natural de Juazeiro do Norte Renato Casimiro morou na sua infância na Rua São Francisco. Desde criança que convive com a cultura da cidade.

Estudou no Ginásio Salesiano São João Bosco. Relembra uma vez em que voltando para casa, ouvia da radio no programa a Voz da América, sobre o assassinato do presidente americano John Kennedy.

O mundo só falava sobre isso, e ele se chateou. Então, lembra que foi na estante de seu pai e avistou os livros. Olhou e encontrou um livro com o titulo de Juazeiro e o Padre Cícero, dedicado ao seu avô por Floro Bartolomeu, um grande personagem da historia de Juazeiro.

O livro o fez refletir sobre a densidade do ambiente de Juazeiro e o quanto não o conhecia rico em historia, cultura, religiosidade, etc. A data do assassinato, 23 de novembro, marcou este momento e fez com que tivesse uma percepção mais visual e cheia de ilustrações. De repente, esse lado visual antigo o despertou à busca pelos registros fotográficos, onde tem hoje mais de 10 mil. O amor pelos arquivos e pelo livro foi crescendo, tornou-se uma pessoa enriquecida com o conhecimento advindo das manifestações do local de sua cultura.

Viu a ascensão de Juazeiro, onde uma vila cresceu... Surgiram as eletrificações, as repartições publicas, o aeroporto... Com a evolução urbana, a vida a levou explosivamente a uma tendência de cidade médio-grande porte, com receio de não ter qualidade de vida e não abafar a tendência cristalina da cultura, em margem contraditória do conflito regional entre Crato e Juazeiro, influindo um compromisso mais descompromissado, alimentando a comunidade ansiosa pelo crescimento.

O primeiro jornal de Juazeiro, “O Rebate”, queria um Juazeiro independente, para que não fosse vila do Crato. Também eram publicados os primeiros cordéis de João Martins, as primeiras xilogravuras. A mídia (jornal) era a microfilmagem e está em projeto de digitalização na Biblioteca Nacional.

A partir disso, foi compreendendo, ainda tímido, a cultura de Juazeiro.

Seu pai queria que fosse engenheiro elétrico do ITA, mas foi reprovado em Desenho Industrial. Lembra da disciplina de Geometria Descritiva com referência cartesiana e linha base, tudo inside com um ponto de luz verticalmente...

Quando começou a estudar, descobriu a Química, pois na época ela era pouco explorada. Ficou fascinado pela Química e decidiu estuda-la. Teve um professor muito competente que o incentivou bastante, Altino Vailate, da PUC, o qual hoje e muito grato. Brilhou como estudante e começou uma carreira através da qual aspirou o conhecimento pela vida com o que chegou à Biologia.

Impressionou-se muito quando viu a descoberta da estrutura do DNA. Decidiu ficar na Biologia pelo fascínio pela vida. Entrou na UFC como professor de Microbiologia, pois preferia estudar seres com vida de 20 minutos a árvores de centenas de anos. Os fenômenos dos seres o encantavam. Após, lecionar, findou a carreira docente como professor de Biotecnologia, em 2004, quando se aposentou.

Um ano após, começou a interagir com a indústria, pois sua área era inovadora. Queria dar subsídios da Biotecnologia às áreas industriais e através dela se tornou consultor da Embrapa.

Acompanhava a produção de iogurte, a fermentação da cachaça e vinho, queijo, coalhada. Também foi consultor da M. Dias Branco, na área de biscoitos, massas, farinha de trigo e margarina. Vitorioso na área profissional tinha as ferramentas no transito confortável destas empresas.

Mesmo residindo em Fortaleza, sente muitas saudades da sua terra natal. Se emociona ao dizer: “Eu sai de Juazeiro mas o Juazeiro não sai de mim”. Adora a terra. Não è xiita, mas assume radicalismo.


Ama Fortaleza e convive com o paradoxo apesar de sentir a ausência.

Falando da cultura local, sente grande satisfação com os gênios do povo, como dão soluções criativas, como cantam o infortúnio e suas graças precisam ser cuidadas.

Em 1965 partiu para Fortaleza e de lá nunca mais saiu.

Foi professor na abertura da Unifor, na área de Biologia.

Ao estar no Memorial Padre Cícero em Juazeiro do Norte, vendo as fotos da época, percebeu que elas impactavam muito à comunidade. Alguns viam familiares, avos, tios. A expressão vista no rosto das pessoas era notória.

Por: Vânia Lopes e Kátissa Galgânia



22 de agosto de 2007

Dane de Jade

O Estúdio Digital (debates interativos gestados informalmente: laboratório de troca de afetos) teve o prazer de receber na sexta-feira 17/08/2007 a cratense Roseane Bezerra de Oliveira: Dane de Jade, gestora cultural do SESC–Serviço Social do Comércio.


Dane, dANoCa, danada era como sua tia querida a chamava, desde criança... e foi assim, muito tempo depois desde que passou a ser chamada Dane, só que, de Jade, nome de sua primeira filha. Apesar de quando criança viver se apresentando nos palcos, sendo atriz, acabou mesmo foi sendo gestora cultural.

Primeiramente atuou na Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal da cidade do Crato CE, onde trabalhou com o ator Fernando Piancó e depois com o cineasta Rosemberg Cariri, quando no fim da década de 90, através de uma seleção pública passou a ser coordenadora de cultura do SESC, unidade Crato. Hoje mora em Fortaleza e é gerente do programa cultura do SESC Ceará. Dane de Jade é graduada em Biologia, pela Universidade Regional do Cariri-URCA.

Dane de Jade desde criança sempre esteve em contato com a cultura artística, seu pai trabalhava como projetor em um cinema e provavelmente isso também influenciou seu interesse pela arte e pela cultura local, sobretudo pela tradição popular a qual se identifica com paixão. Para Dane desde que nascemos já estamos inseridos numa cultura que nos cerca já dentro de nossa casa.

No SESC ela ressalta entre tantos projetos a Mostra SESC Cariri das Artes que é um dos maiores eventos que o SESC realiza na região. Para Dane, cultura também é a comunhão de pessoas que fazem algo que seja significativo para a sociedade.

Sobre seu projeto para o futuro, muito emocionada, ela nos falou que seu maior sonho é poder voltar ao Cariri, criar uma ONG que visará trabalhar com a tradição regional, pois a mesma ver a situação dos mestres da cultura regional carente de atenção por parte do poder público e privado. Dane ainda frisa “é um paradoxo porque não dá pra entender como que uma pessoa possui um conhecimento daqueles e muitas vezes suas famílias passam por dificuldades”, comenta nossa convidada.

Para ela é muito importante ver a tradição ser reconhecida. Falando sobre a região do cariri ela a diferencia das outras a partir dos fatos históricos, personalidades como o beato José, Lourenço, Bárbara de Alencar, beata Maria de Araújo, padre Cícero, entre outros que contribuíram para que o cariri seja um celeiro, um caldeirão de manifestações culturais.

Sobre os mestres da cultura popular ela ressaltou a preocupação com a saúde dos mesmos, salientando que, não existem projetos direcionados para essa questão, embore destaque a importância da bolsa/pensão vitalícia da Secretaria de Cultura do Estado-SECULT. Essa bolsa, porém, ainda é restrita a um pequeno grupo.


Falando sobre a influência da cultura nos meios de comunicação, ela comenta que mesmo sendo positivo o surgimento de tecnologias de ponta ao longo dos anos, por outro lado a programação que é veiculada é questionável. Há uma desvalorização e uma banalização de tudo. Políticos agem visando seus interesses pessoais e não coletivos. Não se ouve nas rádios música de qualidade, somente são privilegiadas aquelas da indústria, do mercado musical perdendo portanto, a possibilidade de se fazer do rádio, por exemplo, um veículo de difusão para um aprendizado cultural.



Texto:
Cláudia e Ivanildo